Recebi esse livro de uma amiga do trabalho alguns dias antes das minhas férias. Ela me emprestou com tanta gentileza que me dispus a ler com atenção em reconhecimento ao carinho demonstrado. Nem precisei me esforçar muito. O livro é tão bom que li em menos de 48 horas!
Escrevo essa resenha com o objetivo explícito de fazer propaganda escancarada e gratuita, sim! Gostaria que todo mundo lesse essa obra. Se não o mundo, ao menos o Brasil. Se essas letras estimularem pelo menos mais um leitor, que assim recomende o livro a outro, já ficarei satisfeita.
"É muito mimi...vocês vêem racismo em tudo!" - essa frase foi dita a mim por uma pessoa branca, durante uma discussão acalorada em que eu tentava ensinar-lhe a não se referir aos meus antepassados como escravos. Dizia-lhe eu: "não descendo de escravos, mas de africanos escravizados"...Eu ainda não tinha lido o livro do Lázaro e já concordava com ele quanto a essa terminologia. A briga foi feia e eu perdi, como frequentemente perco ao tentar erguer a voz contra a opressão do racismo. Pelo olhar do outro, ou estou exagerando ou criando caso. Via de regra, sou convidada a abaixar a cabeça e a me resignar. As coisas são o que são...
No confronto aberto, sempre me dou mal. Por isso, entre Malcom X e Martin Luther King Jr prefiro a não-violência deste último. Evito polêmicas e detesto bate-boca. Outro ponto em comum identificado com Lázaro.
Não tive oportunidade de assistir a peça "Do topo da montanha", dirigida e encenada por ele, mas tenho certeza de que foi linda, pois se baseia em um dos discursos mais impressionantes que já foram escritos pelo citado reverendo que é uma referência de ser humano para mim, como também o é para o autor de "Na minha pele".
Voltando ao livro, Lázaro faz uma agradável conversa com o leitor. Conta suas experiências e, usando sua trajetória como pano de fundo, nos faz perceber quão sutil, dissimulado e insidioso o racismo pode ser.
Coisas que antes eu julgava serem defeitos meus, meramente psicológicos, como a frequente sensação de inadequação, de não-pertencimento e até de menos-valia são reveladas no livro como traços do perverso racismo que vigora em nosso país. Coisas que só quem veste a pele negra entende.
Termino a leitura com uma vontade imensa de tomar um café com o autor. Ou melhor, um Carmenère chileno. E conversar horas a fio sobre as experiências que eu vivi e ainda vivo, validando e reforçando tudo o que ele coloca em seu livro.
Concluo que muitas vezes sou racista comigo mesma, quando deixo o olhar desconfiado do outro me ferir. Quando deixo de me posicionar por achar inadequado ou quando me sinto envergonhada de ser quem sou e estar onde estou apenas por que tantos outros como eu, ou até melhores, ainda não conseguiram chegar.
Obrigada, Lázaro Ramos.
Obrigada por tratar desse assunto com leveza e profundidade. Com amor e respeito. Eu me via feia e inferior refletida nos olhos do preconceito. Você me ajudou a vestir a minha pele e ficar mais à vontade nela. Que seu livro seja lido em todos os bairros de periferia, escolas públicas e particulares, bancos de praças, filas de banco...viagens de avião, de trem e de barco...e até de "Tomaquêeee"*.
Notas:
Sou negra de pele clara. Embranquecida pela mestiçagem.
Recentemente escrevi o texto " Em cima do muro mestiço" que trata um pouco dessas reflexões. Foi dias antes de ler o livro do Lázaro e traz as minhas percepções sobre ser mestiça. Acho uma condição bem difícil essa de ser misturada. Não ser nem preta nem branca é bem complicado. Não tenho as facilidades da raça dominante, porque não sou branca o suficiente... (ah, esse cabelo....). Nem sempre meu ativismo como negra é visto como legítimo, porque sou branca demais pra ser preta. O texto está no link:
*Lázaro Ramos insere essa expressão em seu livro. Não vou explicar para não dar spoiler...para saber o que significa, recomendo que leia o livro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aceita um café? Adoraria que você participasse da conversa. Expresse aqui sua opinião.