sábado, 18 de janeiro de 2014

Maria de Magdala

Não me atrevo a escrever com conhecimento de causa. Escrevo como pessoa curiosa que leu alguns artigos e livros que mencionam essa intrigante personagem bíblica.

Ela exerce um fascínio muito grande, porque era bonita, inteligente, poliglota e ao que parece, era uma pessoa importante no círculo central do cristianismo primitivo...Em um tempo onde as mulheres sequer podiam entrar no Templo. Muito menos falar em nome de Deus.

No livro Maria Madalena, de Margaret George, que  acabei de ler, a nossa amiga é retratada como uma mulher inteligente, a frente de seu tempo, culta e estudiosa. Mas, também atormentada por demônios. E esses demônios, por sua vez, nada mais eram que os antigos deuses pagãos. Cananeus ou egípcios. Todos se apossaram dela e falavam através dela.

Há pequenos erros que julgo serem de tradução no livro, o que me deu vontade de ler o original para confirmar. Além disso, Margaret retrata o conflito de Madalena com Asera e os demais deuses que a afligem de uma forma meio prosaica. Não gostei. Ela descreve os deuses como demônios, narrando os diálogos internos de Maria com essas entidades da mesma forma que um protestante ou um judeu radical narrariam, carregando nas tintas para que tenhamos medo, mas com diálogos meio infantis e forçados. Não sei se ela tentou retratar a visão que os fariseus, aos quais a família de Maria pertencia, ou se de fato ela escreveu assim porque acredita que assim foi. Esquisito.

A narrativa amadurece a partir do momento em que Maria vai a Cafarnaum em busca de cura para seus tormentos. A leitura fica mais interessante. Há referências aos costumes dos judeus e parece haver algum rigor histórico.

Resolvi dar uma chance a Margaret e continuar lendo... Não me arrependi.

O livro vai melhorando conforme a história se desenrola. A narrativa da possessão da Madalena e da sua luta contra os sete demônios no deserto é imaginativa, fantástica e surreal. Mas, prende a atenção.
Sua redenção, seu sofrimento e sua rendição a Jesus são comoventes. Agora estou em Cafarnaum, com Maria, Andre, Filipe, Natanael, Simão Pedro e Judas Iscariotes, que acabou de se juntar ao grupo. Jesus foi ali rapidinho no deserto e já volta...

Após a volta do deserto, o Ministério de Jesus se consolida e Maria se transforma em sua discípula favorita. Não, senhores! Não há sexo transcendental, nem filhos sagrados nessa história. Madalena chega a se confundir e achar que ama o homem por trás do Mestre. Mas este logo a põe em seu lugar. Maria - minha missão é outra. Não posso me deixar levar por paixões humanas, por mais belas e naturais que sejam.

Madalena compreende e segue sendo a mais fiel e diligente das apóstolas, embora os cânones não a reconheçam. No surprises... Foram escritos e selecionados por homens...

Daí em diante toda a narrativa se parece muito com o Evangelho de Mateus, só que contado sob o ponto de vista da Madalena. Por curiosidade, voltei para ler a Bíblia e checar os paralelos. Por nostalgia, fiquei pensando em como o Cristianismo ter sido puro e honesto em suas origens. As pessoas pareciam estar mesmo dispostas a viver o "Reino de Deus". Segundo os relatos, eles viviam em comunidades e quem tinha um pouco mais repartia com quem tinha menos. Eles se apoiavam mutuamente. Eram hospitaleiros, honestos e decentes. As mulheres eram respeitadas e todos tinham pouco, mas o suficiente. Todos tinham esperança, pão e roupa. Um lance assim, meio hippie... Me deu vontade de fugir para uma comunidade Copta dessas e viver de frutos secos, pão e azeite de oliva...Uma casinha na montanha...Ações de caridade e orações todas as noites...Não seria nada mal....

Fico me perguntando porque uma religião que prega o amor se corrompeu tanto ao longo dos anos. O que Jesus diria se visse seus seguidores hoje em dia.?...Ficaria decepcionado? Será que um dia o Cristianismo voltará as suas origens? Quem sabe....É tudo muito controverso....

Para quem gosta de ler....