terça-feira, 27 de março de 2018

As Sabiás


As Sabiás

Peço licença poética para chamar o sabiá de sabiá-menina. Daqui em diante, elas serão “as sabiás”.
Eu nunca vi sabiás voando em bando. Elas parecem seres solitários. Voam solo, ou em duplas, ou em pequenas famílias. Fazem pequenos ninhos. Ciscam, pulam, voam e cantam. Vivem simplesmente.
Aprendi que o sabiá é o pássaro símbolo do Brasil. E que sabiá significa "aquele que reza muito". Talvez seja por seu canto, que mais parece uma melodia celestial...

Eu conheci algumas sabiás. E hoje quero falar sobre elas.

Era uma vez uma sabiá. Ela ciscava, pulava, voava e cantava livre. Um dia, um homem a viu e achou muito linda. Ele quis a sabiá só para ele e a colocou numa gaiola. Em pouco tempo, a sabiá não cantava mais. Desaprendeu a ciscar. Comia só o que ele lhe dava, pela janelinha da gaiola. Ela engordou, e logo suas asas não aguentavam mais o peso do seu corpo. Para garantir que ela não fugiria, o homem cortou a pontinha das suas asas. Aí, ela não conseguiu mais voar, nem cantar, nem pular, nem ciscar.

Era uma vez uma sabiá que sabia ciscar. Ela se juntou com outra que sabia cantar. E ambas aprenderam a voar com uma outra companheira. Elas juntaram outras sabiás sábias. Cada uma sabia uma coisa diferente. Elas formaram uma comunidade. E criaram códigos para se comunicar. Criaram uma linguagem nova, que somente elas entendiam. Um canto suave que mais parecia uma reza...

O bando começou a crescer. Embora elas continuassem livres para voar por onde quisessem, sempre achavam um jeito de se reunir, bem longe dos predadores. Cada uma ensinava à outra o que melhor sabia.

Uma delas, era mestra em abrir gaiolas. Outra, tinha um faro aguçado para predadores. Uma terceira, cantava muito alto e era quem dava os alarmes de segurança. Juntas, elas saíram pelo mundo abrindo gaiolas e resgatando sabiás-cativas.

As sabiás recém-libertas eram muito frágeis. A qualquer momento poderiam fraquejar e serem novamente aprisionadas. As sábias-sabiás lhes ensinaram tudo de novo. Curaram suas asas, ensinaram como ciscar, como pular, como voar e como cantar. Além disso, ensinaram também como farejar o predador, como abrir fechaduras e como dar alarmes.

Desse modo, elas criaram uma grande comunidade de sabiás livres. Cada uma aprendeu o seu próprio e específico canto de liberdade. E elas cantam bem alto, quando estão felizes. E ainda mais alto, sempre que se sentem ameaçadas. E quando esse canto ecoa no céu, todas as outras prontamente aparecem em seu socorro. Elas usam suas habilidades para curar umas às outras. Elas se ajudam e se amam. Elas se abençoam mutuamente.

Elas são sabiás-sábias. Vivem suas vidas simplesmente. Ao seu modo, cantam, ciscam, pulam e voam livres. Sem medo de nada.

E nunca mais uma sabiá se tornou cativa novamente. E seus homens aprenderam que não precisam de gaiolas. Entenderam que onde estiver seu ninho, aí estará sua sabiá. E ela estará ali por seu livre arbítrio. E ela cantará para ele. Espontaneamente

E todas as sabiás se tornaram sábias, livres e felizes para sempre!

Texto dedicado às Sabiás que tenho encontrado por aí... A Sílvia Profumo, as Sabiás da Moporã e as Sabiás da Comunidade Sou Mulher. 

Obrigada por me ensinarem a voar.

Para saber mais sobre a sabiá: http://www.wikiaves.com.br/sabia-laranjeira