terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Um canto para Morro de São Paulo

Refletido no verde esmeralda do mar vejo um Sol onipresente. Sinto um calor onipotente.
No chão, a areia é fina como farinha. Conchinhas arranham meus pés.
Não tenho caminho, nem destino. Só a vontade de caminhar.

Morro de Amores


O sossego mora aqui.
Não há tempo para a pressa. Não há vagas para a ansiedade. O deprimido perdeu o último catamarã.
Observo o mundo à miha volta: Uma moça medita no mirante. Um pescador joga sua rede. Um idoso Frei reza pela Vida.

Morro de Paz


Um peixe pulou fora d'água só para me avisar: Você veio aqui descansar!
Até a rede social é lenta. Rede aqui? Só para pescar. Mas, eu prefiro peixe vivo.

Morro de Alegria


O silêncio é quebrado pela conversa dos pássaros e pelo motor dos barcos. Cantos belos e estranhos, misturados numa atmosfera verde. Quente. Quieta.

Morro de Preguiça

A Paz se mudou para cá, verão desses. Veio de mala e cuia. Trouxe o marido, Sossego e a filha Confiança. Aqui, a família cresceu. Meditação, Contemplação e Preservação cresceram juntas, morenas e nuas nessas areias sem fim.

Mas, um dia. A Sombra veio passar férias aqui. Não a sombra das árvores, mas a sombra do mal. A Sombra dos homens. Filha do Sinistro e da Violência. Do Desmatamento e da Devastação.
Morro de Tristeza


Hoje a Paz luta para sobreviver. Entre garrafas pet e conchinhas. Entre latas e peixinhos. Entre drogas e armas. Entre pontas de cigarros e incêndios criminosos. Entre copos e mentes vazias. A Beleza ainda mora aqui. Mas, até quando?

Raízes de árvores sustentam os muros de uma história perdida. Guias locais ainda nos lembram: Aqui jaz o Passado sombrio, pai de um Presente devastador, avô de um Futuro incerto.

Morro de Saudades...


Que o verde esmeralda deste mar não se perca em esgotos.
Que a areia fina dessas praias se sujem somente de algas e folhas.
Que haja peixe e ostra. Frutas e frutos.
Que haja Paz e Contemplação.

Que o Sol e a Lua abençoem Morro.

Morro de São Paulo

Preserve o Belo. 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Sobre ladeiras e decisões.

Este fim de semana desci uma ladeira mega difícil. Teve torcida e tudo!!

A princípio, não ia descer. Prudente que sou, examinei o terreno, fiz meus cálculos mentais. Fiz e refiz a análise de risco. Concluí que tinha 50% de chance de conseguir...e apostei!

Os colegas incentivaram. Lembrei de quando aprendi a descer ladeiras, de forma técnica, pela primeira vez. Foi na trilha de Abrantes - cidade de Camaçari em 2009. Eu já havia tomado dois tombos homéricos naquela mesma ladeira. Tomei medo. Pânico. Verdadeiro terror. Não conseguia mais descer nem rampa. Sempre ia empurrando a bike.

Foi quando experimentei na prática o que é liderança.

Primeiro, apareceram os "chefes". Eles me estimulavam no grito, na provocação. Deixa de coisa. Todo mundo desce. Vai logo, mulher. E larga o freio! E saiam correndo na frente para me ensinar o quanto eram corajosos.....o que eu aprendia??? O quanto eu era frouxa......

A intenção era boa e com certeza funcionava para muita gente. Comigo não funcionou. Continuava empurrando a bike, carregando o medo e a frustração comigo. Achava que não ia conseguir nunca.

Também tive líderes. Esses, me davam força. Botavam fé. Falavam da sua história, e de outros, e de como foi difícil para eles.  Diziam que assim como eles, eu também era capaz. Que eu ia conseguir. Que precisava me superar.

Eram tão bacanas, que me dava vontade de descer a ladeira por eles. Para vê-los felizes. Mas, contra o pânico não há argumento.... e lá ia eu de novo. Empurrando e jurando, que da próxima vez ia tentar.


O que funcionou? O "coach".

Esse cara era diferente. Ele se colocou ao meu lado. E desceu no meu ritmo. Calmamente me ensinou a manobrar os freios. Acalmou meu medo e me manteve focada na trilha. Descemos juntos. Passou-me segurança e apoio. Quando eu vi.... já tinha descido. Foi um momento importante. Era uma ladeira besta, que todo mundo desce. Mas, para mim, foi uma grande superação.

Ainda levei alguns anos para controlar o pânico. Travei ainda inúmeras vezes. Mas, sempre que eu decidia descer, era aquela lição que eu resgatava. E é o que faço até hoje.

Na trilha de ontem, também em Camaçari, mas bem mais difícil que a descida de Abrantes, passei por mais uma dessas. Todos desceram. Eu quis ficar por último. Tati Paiva desceu antes de mim. Mas, antes de ir, me deu uma aula de técnica. Ouvi-la explicar como planejava atacar a ladeira me transmitiu calma. Lembrei do meu "coach". Dos meus líderes e dos meus chefes. Todos, de algum modo me ajudaram. Naquele momento, ela foi coach. E desceu brilhantemente, deixando um rastro de exemplo e paciência.

Chegou minha vez. A torcida era grande, mas ninguém me pressionou.  Decidi por mim mesma. Subi um pouco mais, para uma parte menos íngreme. Ali eu teria tempo de ajustar a marcha, controlar a bike e ganhar confiança.

Eu sabia que uma vez decidindo descer, não poderia mais voltar atrás. Era descer ou cair rolando. E eu decidir descer. Lá embaixo, a turma ficou na torcida. Todos conhecem meu medo histórico. Se eu não descesse, ninguém ia estranhar.

E eu desci. Com apoio de todos os meus anjos da guarda. Pedra por pedra, repetindo meu mantra sagrado ("é só mais meio metro a minha frente").  E de metro em metro, venci o medo.

Foi lindo. Emocionante. Para muitos isso pode ser trivial, mas quem tem medo, deve entender como é difícil.

Essa ladeira me ensinou que na vida existem momentos críticos em que você precisa se decidir. E quando decidir, não terá como voltar atrás. Vale ser prudente e examinar a situação. Vale não ir, se não se sentir segura.

Como diria o Mestre Yoda, é fazer ou não fazer. Não existe "tentar".

Voltei mais decidida e corajosa para enfrentar o que vier. Ladeiras, problemas, decisões, podem vir. Estou pronta!!!!

Ah, se aqueles que tem posição de liderança soubessem do impacto que causam na vida das pessoas.....seriam mais cuidadosos.




Quando for preciso ser chefe, seja. Quando puder ser líder, seja. Quando tiver uma chance, seja um coach. Mas, faça com amor. Você não sabe o quanto isso pode ser importante para alguém.

Obrigada, amigos, por tantas lições de vida!