sábado, 19 de janeiro de 2013

Mulher de fases ou "As fases da vida"

Hoje a fumaça do café me fez refletir sobre o “ser mulher”.

Que “ser” é este? Complexo. Convexo. Incompreensível. Incompressível.

Que mulheres somos? Que fomos? O que trazemos de cada fase da vida? E o que levamos adiante? O que devemos guardar e quando devemos aliviar a mochila?

(É, porque se for para carregar tudo o que aprendemos da vida, vamos virar tartarugas.. Não na idade, mas no peso que carregaremos nas costas! Desapega!!!!)

Como manter a leveza sem desperdiçar o conteúdo?

Ao longo da vida ganhamos camadas. Uma no útero – É da genética. Outra na infância – É da mãe.  Outra na adolescência – São as amigas, as novelas, os livros, os filmes.

Quando nos tornamos mulheres de fato, somos uma verdadeira massa folhada!! Com recheio e tudo...

O recheio às vezes é bom.. Às vezes ruim. Às vezes saudável, outras indigesto. Às vezes agradável, outras insuportável...

É que tudo depende dos temperos que fomos acrescentando, aqui e ali. Um gesto, um carinho. O excesso. A falta...

A menina, a mocinha, a mãe, a madrasta, a bruxa, a fada... Tá todo mundo lá... guardado no escuro do nosso inconsciente. Dormindo ou gritando. Sorrindo ou esperneando...Influenciando nossas atitudes. Os monstros ainda estão no armário. As saídas secretas também.

A resposta também está lá...bem escondidinha... dentro daquela caixinha de música. Dentro daquele diário. Naquele porta-jóias...

Eu li num livro ("As Brumas de Avalon" ) que a vida da mulher Celta era dividida em fases, assim como as estações do ano. Primeiro, ela era "a Donzela", ou a instável Primavera.  Depois, "a Sacerdotisa" ou a "Mãe" ou o frutífero Verão, então, tornava-se "a Senhora", o plácido Outono. Por fim, era "a Velha", o frio Inverno.

Quando se era a Donzela, se devia obedecer a todo mundo. O seu querer tinha que ser subordinado ao das mulheres mais velhas. Uma alusão à submissão da mulher jovem aos pais e a sociedade. Não se tinha vontade própria. Era preciso ser protegida da maldade humana e da própria impertinência. Ela era a curiosidade e a inocência. Ao mesmo tempo era imprevisível, instável, cheia de energia, como a Primavera.

Quando a Donzela se tornava "a mãe", mesmo não tendo filhos, já começava a governar a própria vida. Era livre. Escolhia com quem queria casar ou se queria casar. Não baixava a crista para ninguém. Ela ainda devia se sujeitar à Senhora, porém não raro a enfrentava. Se tentavam domina-la, discordava. Rebelava-se. Era fértil, quente, intensa. Podia ser feroz se necessário, tanto quanto uma chuva de Verão.

Inteira. Dona do seu nariz. Voluntariosa. Vigorosa. Teimosa, às vezes. Achava que já sabia de tudo.

Perspicaz como uma águia. Não tinha mais a inocência, nem o frescor da donzelice. Mas tinha todo o vigor físico e mental. Bela. Sedutora. Corajosa. Misteriosa. Uma Mulher! Com "M" maiúsculo. Sabida! Mas, não Sábia. Ainda não.

Essa fase durava dos 25 até uns 50 anos de idade. 

Aos poucos, o tempo passa. Novas donzelas chegam. Cabelos se grisalham. Subir aquela montanha ou aquelas escadas não é mais tão fácil como era antes. Ela até consegue ir mais longe.. .Mas, tem que ir mais devagar.

Ao se ver no espelho, ela vê reflexos da donzela sendo escondidos sob rugas e marcas de expressão. Às vezes, a “Velha” aparece para lhe assombrar. Às vezes, ela tem medo da morte. Mas, são vultos rápidos que passam logo. Ela não tem tempo a perder com bobagens...

Ela sabe que é assim. Foi educada para passar por tudo isso. Ela sabe que a vida segue o fluxo das estações. Entende os ciclos e aceita as mudanças que o outono traz.

Assim, ela se torna "A Senhora". Elegante, respeitável. Para ela, homens, mães, donzelas, todos se curvam. Ela tem Poder no olhar. Tem sexto sentido. Percebe os pensamentos e os sentimentos que a cercam. Tem a "Visão" e a controla. Entende o passado e vislumbra o futuro.

Está finalmente apta a orientar as mais jovens. É firme, decidida. Às vezes fria e implacável. Mas, só quando necessário.

Aos poucos, a Senhora vai dando espaço para "A Velha". É a transição mais difícil. A Senhora não quer entregar o bastão. Não quer admitir que precisa dar lugar a outra e recolher-se. Ela tem medo da sombra e tem medo da morte.

Não é com pouco sofrimento que ela entrega o posto. Às vezes, se veste de negro e fica a esperar o fim. Se teve uma boa formação e se de fato amadureceu, logo aceita sua sina. Afinal, ela viveu bem todas as fases. Ela viu as flores brotarem e desabrocharem. Ela viu as folhas do outono amarelarem e caírem.

O inverno é frio, mas é também aconchegante. Ela tem os segredos da vida e da morte. Ela faz poções mágicas. Ela é "A Sábia". Ela finalmente sabe de tudo. E sabe disso!

Ela não está mais no centro das atenções. Não está mais no comando. Porém, os guerreiros, os reis e os nobres vem a ela se consultar. Ela fala com o olhar e sua presença impõe respeito.

Todos se levantam quando ela passa. Se soube viver bem todas as fases, será respeitada, honrada e lembrada. Ela levará ao túmulo muita gente que viu nascer. E quando chegar sua hora, terá muitos a lhe honrar. Seu nome não será jamais esquecido. Tem um lugar de respeito na memória de todos os seus filhos e filhas. Tendo saído de seu útero ou não.

O segredo da verdadeira beleza está em saber viver com intensidade cada fase da vida. Tirar as cascas e trocar a pele. Aceitar o fluxo natural das estações e se divertir com isso.

Feliz fase,qualquer que seja ela. Feliz dia. Feliz vida para todas nós!




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