Ando refletindo sobre o efeito da modernidade sobre nossa saúde mental.
Decididamente recebemos muito mais informações que nosso cérebro é capaz de
processar. Tudo hoje é muito rápido e entrecortado. Interrompido. Raso.
Começamos a escrever uma mensagem no facebook
e logo "pipoca" uma outra no MSN, e no twitter. E toca o telefone. E chega um e-mail novo. E a atualização do Windows
lhe interrompe avisando que vai reiniciar sua máquina....AGORA!
... (reiniciando)...
Antigamente, usávamos mais o "ou". Ou escrevíamos uma carta,
ou usávamos o telefone. Ou íamos falar pessoalmente. As cartas eram mais
longas.
Ou conversávamos com uma pessoa ou com outra. Esse negócio de falar com
três ou mais amigos simultaneamente sobre assuntos diferentes é coisa de doido!
Minha avó nunca entenderia.
Eu estou achando que isso tudo está nos tornando mais impacientes. Mais
rasos. Superficiais.
Se o professor oferece aos seus alunos um texto com mais de quatro
linhas, os alunos desistem de ler. Pior! Sob o argumento de que tem “muitas
palavras”. Ficam logo cansados e entediados. Querem que o professor leia por
eles. Escreva por eles. Pense por eles.
No meu tempo de estudante, as redações tinham que ter de quatro a cinco parágrafos
e de 20 a 25 linhas.
O meu filho só precisou escrever 15 linhas. O ENEM de 2010 exigiu 11 linhas.
O de 2011 reduziu a redação para 8 linhas! O de 2012.... sete linhas...SETE
LINHAS!!!!!
Como expressar uma ideia e desenvolver um raciocínio com apenas pobres 7
linhas?
Quem é que quer desenvolver ideias,
minha tia? – Responderia um desses meninos da geração Z. Essa turma que já nasceu
com um chip no cérebro e que não sabe segurar uma caneta, mas digita mais
rápido que qualquer secretária executiva.
Pensam rápido. Aprendem rápido. Esquecem rápido. Agem sem pensar.
Nós queremos falar, não dizer. Informar, não conversar. Não há tempo para
textos complexos. Não há tempo para filosofia. Não temos tempo para refletir.
Nem para sentir. Estamos na era do AGIR! Be
quick or be dead!
Confesso que não estou gostando nada disso! Quero conversar. Falar e
ouvir. Ler e escrever. Críticas. Comentários. Sugestões. Hipótese. Antítese.
Tese.
Quero a reflexão. Quero mais contato. Menos superfície. Mais conteúdo.
Olho no olho!
Sei lá.... O que vejo adiante é uma epidemia de psicóticos. Surdos sem
problemas de audição. Analfabetos que conseguem ler, mas não conseguem entender
o que as palavras lhe dizem. Líderes que decidem com base nas três primeiras
linhas de emails que fingem ler. Porque afinal, mais importante que decidir
certo é decidir rápido!
Pessoas impacientes, intolerantes e que medirão seu sucesso pela rapidez
com que conseguem responder aos milhares de estímulos que recebem. Sem se
preocupar com a qualidade dessa resposta. Sem se preocupar com o impacto das
suas decisões. É tudo tão rápido mesmo, que daqui a cinco minutos ninguém vai
lembrar do que foi dito ou escrito.
As palavras estão ficando mais curtas e mais escassas. Os vocabulários,
cada vez mais restritos.
Ou encontramos o caminho do meio ou vamos todos ficar meio doidos.
Quem consegue ler, entender e responder 200 emails por dia, dentro de
uma rotina que inclui conversar com pessoas, andar, comer, rir e amar?
Quem consegue absorver tanta informação? Como diria Caetano...“Quem lê tanta notícia?”.
Por que temos que andar plugados o tempo todo? O ipod no ouvido, um olho
na TV outro na internet e dedos rápidos que interagem com todas as redes
sociais existentes ao mesmo tempo.
Deixo aqui o meu protesto!
Proponho voltar a ser simples. Que tal uma vez por semana ir para um
lugar onde não haja telefone, nem TV, nem internet? Só para a gente descansar
um pouco a cabeça?
Na Higiene Ocupacional se utiliza o repouso como forma de reduzir o
impacto dos agentes de risco na saúde das pessoas. Se há exposição a ruído, se
passa uma parte do tempo em um ambiente mais tranquilo. Se numa tarefa há o uso
dos braços, que se alterne com alguma atividade que utilize as pernas. Se o
indivíduo está em um ambiente quente, vai para uma área mais fresquinha....
E se está exposto a excesso de informação, faz o quê?
Desliga. Desconecta. Cala.
Sugiro o silêncio. Um pão caseiro. Uma xícara de chá ou de café. Uma caminhada no
mato. Um bom papo com os amigos. Sem ipods e sem celulares. Por favor!
Descansar a mente e o espírito. Não podemos interromper o avanço da tecnologia. Mas, é preciso saber a hora de parar a nós mesmos.
Vou agora mesmo fazer um capuccino e refletir um pouco mais sobre isso tudo enquanto observo a fumaça da minha xícara se esvair no ar. Estão servidos ?
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