sábado, 25 de maio de 2013

Tenha uma biblioteca com cheirinho de mofo e tudo

Eu sempre quis ter uma biblioteca.

No Colégio em que estudei havia uma. Ela ainda está lá. E o Colégio também. Há alguns anos fui visitá-lo e pedi autorização para ir a Biblioteca. Sim, com "B" grande. Porque para mim, é como um templo. Um lugar sagrado onde os anjos ficam ao seu lado. Observando o que você lê e dando palpites...

Eu passei longas e solitárias horas em bibliotecas. Foram solitárias, mas não foram tristes. Desenvolvi uma habilidade tal de me deixar absorver pelos livros que eu me desligava totalmente da realidade. Ria, chorava, ficava brava. As letras se transformavam em imagens como num transe de LSD. Era mágico!

Eu lia tudo. Tudo que caísse na minha mão. Quadrinhos, romances, livros didáticos. Gostava muito dos clássicos. Machado de Assis e seu cinismo. Érico Veríssimo e suas histórias tristíssimas dos Pampas. Eça de Queiroz e seus "Maias" e "Primos Basílios". Não sei quem imitou quem, mas Machado e Eça às vezes se confundem na minha cabeça. Não sei onde um começa e outro termina.

Tinha tanto amor por aquela Biblioteca que me dava ao trabalho de encapar os livros que eu pegava emprestado. A bibliotecária estranhou da primeira vez. Achou que ficaria difícil de localizar o livro, porque eu cobria a lombada com papel pardo. Depois, passei a escrever na nova capa o nome e o autor dos livros. Ela parou de reclamar. No fundo, acho até que agradeceu. Afinal, eu estava ajudando a preservar aquele patrimônio. Que para mim valia muito.

Cresci. Parei de ler os clássicos. Mas, continuei lendo de tudo.

Li Harry Potter - A Saga - toda! Destaque para o primeiro livro, devorado três vezes. Fiquei chocada com a morte do Dumbledore, mas defendi o Prof. Snape até o fim. Parecia que todos os personagens eram amigos meus de longa data.

Frustração... Tenho uma. Jamais consegui terminar de ler o Senhor dos Anéis. Sempre páro no capítulo do diálogo das árvores. Como elas falam muito devagar eu canso..... E desisto. Hei de terminá-lo! Questão de honra!

Alguns, como esse do Tolkien, eu começo e abandono, retomando meses ou anos depois. Outros, como da série Harry Potter, só largo quando leio tudo. Até as contracapas, anexos, referências e índice remissivo....

Os livros sempre me fizeram companhia, por isso, guardo um carinho e um cantinho especial para eles. Sei que estamos na era digital e estou aprendendo a ler na tela do computador para economizar papel e tudo.

Mas... Adoro aquele cheirinho de ácaros. Gosto de sentir o papel nas minhas mãos. E o livro, quanto mais velho, mais respeitável. Mais mágico. Mais misterioso.

Tive um professor que dizia que cada livro de autor morto que lemos é uma oportunidade que damos ao autor-defunto para voltar à vida. E ele volta. Toma uma lufada de ar fresco. Agradece pela nossa lembrança e volta triste para a prateleira. Fica lá adormecido até que outra criança curiosa o pegue e o deixe falar.

Aos poucos fui juntando livros. Comprados em sebo (Adoro Sebos!) ou em livrarias. Alguns, ganhei de presente. Outros, peguei emprestado e não devolvi... (shame on me!).

Reservei um lugar de honra para eles. Mantenho-nos limpos, arrumados e lidos! Sei que eles adoram. E que os autores têm conferências internacionais intermináveis quando não estou presente. Por isso, de propósito, não dividi os livros em gênero, nem em número, nem em grau.

Deixo-os lá, em organização aleatória, para que se conheçam, se misturem e se divirtam.
Fico imaginando Virgínia Woof e Humberto Eco tomando vinho tinto e tendo discussões eternas sobre dilemas existenciais.
Tolkien acusando J.K de plágio. Emily Bronte explicando a Marion Zimmer Bradley  que não é apenas uma mocinha inocente e romântica e que à sua maneira também denuncia e critica a condição da mulher...

Você pode me dizer que minha biblioteca está longe de ser digna desse título. E eu concordarei.
Mas, se você gosta de livros, haverá de entender meu desejo de mantê-los bem próximos de mim.

Boa leitura para todos!