terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O aniversário de Jesus - Um conto de Natal

A historinha abaixo é fruto da minha imaginação. Não tem a pretensão de ser relato histórico nem religioso. O objetivo é somente provocar a reflexão sobre o real sentido do Natal. Espero que gostem.

Em uma aldeia remota, no que hoje chamamos Oriente Médio, vive uma família. O tempo é também remoto. Tão remoto que está fora do nosso calendário e por isso, só pode ser estimado. Faz muito.... muito tempo mesmo. 

Eu hoje viajei nesse tempo, observei coisas incríveis e escrevi a seguinte história:

Hoje é um dia especial na casa do Carpinteiro José. Seu filho, Jesus, completa 7 anos. Nessa idade, ele já tem aguçada percepção das coisas. Já sabe diferenciar o certo do errado. Sua mão já sustenta uma ferramenta de trabalho. Ele não é mais um bebê. Já está se tornando um rapazinho.

Os pais conversaram escondidos bem cedo, após o café da manhã, pensando no que fazer para celebrar esse dia. Eles são muito simples e Jesus não tem muitos brinquedos. Mesmo assim, parece muito satisfeito com os cavalinhos que seu pai faz na sua oficina. Sem saber o que fazer para agradar o pequeno, decidiram perguntar.

- Meu filho, hoje é o dia em que você celebra 7 anos nesta terra. O que você gostaria de fazer para agradecer ao nosso Pai do céu por sua vida? – Perguntou sua amorosa mãe, Maria.
- Mãe querida, eu posso chamar meus amigos para a ceia? Podemos fazer uma comida bem gostosa para eles? 
- Mas, é claro que sim! Está combinado então. Hoje você escolhe a ceia e os convidados!

Jesus é um menino não tão diferente dos demais. Não pára quieto, só vive correndo e gosta de brincar. O pai tem lhe ensinado algumas coisas simples do seu ofício, mas o guri não consegue se concentrar por mais de uma hora no trabalho. Toda hora encontra uma ovelha perdida do rebanho, um cachorro doente, um cavalo com dor na pata ou um amigo para brincar...

Ele observa o trabalho do pai e é muito perguntador. Um dia, ao ver seu pai com a cabeça baixa, segurando um prato com pão, lhe perguntou – O que está fazendo, pai José?
-Estou agradecendo ao Pai celestial pelo pão de cada dia. - respondeu o carpinteiro.

Outro dia, Jesus se escondeu atrás de uma porta e pôs-se a espiar seu pai. Ele parecia muito bravo, batendo as ferramentas com força em um velho carvalho e falando alto com um cliente. O cliente não pagou pela mesa e ainda desdenhou do trabalho, chamando José de amador. José, enfurecido, xingou o dito cujo de mentiroso e mesquinho. Os dois quase saem no tapa. Jesus, preocupado, pediu ao pai do céu ajuda. Foi quando José respirou fundo e pediu perdão ao cliente por sua ofensa. E se dispôs também a perdoá-lo por sua impertinência. José propôs fazer os ajustes necessários na peça e o cliente, satisfeito, concordou em efetuar o pagamento.

Jesus tinha uns sonhos estranhos. Ele via antigos mestres que lhe ensinavam coisas sobre fé e amor ao próximo. Eles diziam que ele tinha uma missão difícil, mas que sempre teria ajuda no que precisasse. Ele não contava isso para ninguém, mas anotava tudo o que aprendia e observava em seu caderninho. Que guardava bem escondido, aguardando o momento certo de usar.

Voltando aos preparativos....
http://oratoriosaoluiz.com.br/fevereiro-e-o-mes-dedicado-a-sagrada-familia/ 

Jesus saiu da conversa com Maria muito animado. Esse seria um dia especial. Seria a primeira vez que ele iria comemorar seu aniversário. Fazia um dia fresquinho e uma brisa geladinha soprava no ar. 

Ele foi de casa em casa convidando seus amigos para a ceia. À tardinha, as crianças começaram a aparecer. Cada uma trazendo um agrado para o dono da casa. Um trouxe um pãozinho assado pela mãe. Outro, trouxe um pouco de frutas secas que seu pai comprara na feira mais cedo. Um terceiro, de família mais abastada, trouxe um vinho da casa do seu avô. Uma mocinha trouxe uma toalha tecida pela sua mãe. Esta, se apresentava como viúva, mas na verdade fora abandonada grávida por um aventureiro. Ela sobrevivia de tecer mantas e toalhas de mesa. Por isso, seu presente tinha tanto valor. Era tudo o que ela tinha a oferecer...

Maria ficou tão grata, que mesmo já tendo quase concluído a arrumação da mesa, tirou tudo de novo somente para usar a toalha nova. Presente dessa outra mulher, que também se chamava Maria.

Uma outra menina, muito pobre, não tinha o que levar. Seus pais nem queriam deixá-la ir. Ela era bastante maltratada em casa. Seu nome era Míriam. Seus pais, com a desculpa de “educá-la para ser uma boa esposa” obrigavam a menina a trabalhar de sol a sol e batiam muito nela se alguma coisa não ficasse ao gosto deles. Precisou Maria interferir para deixarem a menina ir.

E ela foi de mãos abanando, porque eles não quiseram que ela levasse nada. Ela se apressou em ir logo, antes que eles mudassem de ideia. Tomou banho e colocou sua melhor roupinha. Um vestidinho de tecido encardido e sem graça.

Chorando, ela chegou na casa de Jesus com muita vergonha. Pediu se podia ajudar na cozinha, já que não tinha com o que contribuir. Maria recebeu a menina com um abraço e deixou que ela entrasse. Por uma noite ela não precisou trabalhar e foi tratada como criança. Ela foi autorizada a brincar!

As outras crianças foram chegando e os nervos de Maria foram se agitando! Cada um mais bagunceiro que o outro. Alguns nem tinham se lavado para jantar. Outros tinham até terra nas unhas! Que absurdo!

- Jesus – trate de dar conta dos seus amigos. Estão imundos! Ninguém entra na ceia desse jeito. Convença-os agora mesmo a se lavarem!

O menino Jesus prontamente acatou a ordem. Afinal, não era dia de contrariar a mãe! A barriga já roncava e o cheirinho de comida já cruzava a esquina. Um por um, os meninos e meninas foram lavando as mãos, o rosto e os pés.

No cantinho da sala de brincar, estava um pequeno. Seu nome era Jônatas. Ele não queria brincar, mas estava feliz de ter sido convidado apesar da sua condição. As crianças não tocavam nele. Somente Jesus lhe dirigia a palavra. Aliás, Jesus era o único amigo que o menino tinha. Ele morava nos muros da cidade afastado das demais pessoas. Alguns parentes de vez em quando lhe davam comida. Jônatas tinha lepra. Estava no comecinho, mas as manchas brancas e rosadas pelo corpo já provocavam o asco e a repulsa das pessoas.

Jesus pegou o menino pela mão e lhe disse: Hoje é um dia especial e você é meu convidado. Vou ajudá-lo a lavar as suas feridas. Enquanto Jesus lavava as mãos e os pés do pobrezinho, o menino se pôs a chorar. As feridas pareciam estar se dissolvendo no sabão. Sua pele voltou a ser macia e limpa. Ele ficou bom!

Todos limpinhos, cheirosos e curados, sentaram-se ao redor da mesa. Antes de avançar sobre os pratos, Jesus pediu aos amigos que todos dessem as mãos. Em seguida ele disse: Nós vamos agora fazer uma oração que meu pai me ensinou:

Pai nosso, que estais no céu. Santificado seja o vosso nome. Venha a nós o seu Reino e seja feita a vossa vontade. Assim na terra, como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje e perdoai as nossas ofensas, como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.

José e Maria observavam atentos o comportamento do seu menino. Eles se abraçaram e sentiram os olhos cheios de lágrimas. Era um bom menino. Sabia fazer amigos. Era educado e grato a Deus. O que mais poderiam desejar?

Após o jantar, enquanto ajudava Maria na cozinha, a menina Míriam pediu se ela queria ser sua madrinha. Maria, emocionada, abraçou-a e disse que sim. E ainda lhe falou o seguinte:
- Eu não posso evitar que o mal lhe atinja. Nem impedir que outros te maltratem. Mas, sempre que estiver triste ou com medo, você pode encontrar refúgio em mim. Eu vou proteger você com meu véu se necessário. Eu me colocarei na sua frente, se preciso for. Estarei sempre com você. É só me chamar. 

Em seu íntimo, Maria pediu: Meu Deus, por que tantos pais maltratam seus próprios filhos? Ensinai-os a distinguir entre o certo e o errado. Entre disciplina e tirania. Entre caridade e maldade. Senhor, perdoai esses pobres pecadores. Que eles se arrependam agora, ou ao menos antes da sua morte. Amém!

Desde então, todos os anos Jesus continua convidando seus amigos para sentarem com ele à mesa e celebrarem mais um ano com amor. Cada amigo continua levando o que tem. E Jesus continua acolhendo a todos. 

Desde então, a Sagrada Família continua servindo de exemplo para o mundo. Eles nos ensinam como criar nossos filhos e como repartir o pão com quem não tem. 

E você? O que você levou de presente para Jesus este ano?

https://peregrinacultural.wordpress.com/2009/12/06/natal-e-reuniao-em-familia-quadrinha/

terça-feira, 27 de março de 2018

As Sabiás


As Sabiás

Peço licença poética para chamar o sabiá de sabiá-menina. Daqui em diante, elas serão “as sabiás”.
Eu nunca vi sabiás voando em bando. Elas parecem seres solitários. Voam solo, ou em duplas, ou em pequenas famílias. Fazem pequenos ninhos. Ciscam, pulam, voam e cantam. Vivem simplesmente.
Aprendi que o sabiá é o pássaro símbolo do Brasil. E que sabiá significa "aquele que reza muito". Talvez seja por seu canto, que mais parece uma melodia celestial...

Eu conheci algumas sabiás. E hoje quero falar sobre elas.

Era uma vez uma sabiá. Ela ciscava, pulava, voava e cantava livre. Um dia, um homem a viu e achou muito linda. Ele quis a sabiá só para ele e a colocou numa gaiola. Em pouco tempo, a sabiá não cantava mais. Desaprendeu a ciscar. Comia só o que ele lhe dava, pela janelinha da gaiola. Ela engordou, e logo suas asas não aguentavam mais o peso do seu corpo. Para garantir que ela não fugiria, o homem cortou a pontinha das suas asas. Aí, ela não conseguiu mais voar, nem cantar, nem pular, nem ciscar.

Era uma vez uma sabiá que sabia ciscar. Ela se juntou com outra que sabia cantar. E ambas aprenderam a voar com uma outra companheira. Elas juntaram outras sabiás sábias. Cada uma sabia uma coisa diferente. Elas formaram uma comunidade. E criaram códigos para se comunicar. Criaram uma linguagem nova, que somente elas entendiam. Um canto suave que mais parecia uma reza...

O bando começou a crescer. Embora elas continuassem livres para voar por onde quisessem, sempre achavam um jeito de se reunir, bem longe dos predadores. Cada uma ensinava à outra o que melhor sabia.

Uma delas, era mestra em abrir gaiolas. Outra, tinha um faro aguçado para predadores. Uma terceira, cantava muito alto e era quem dava os alarmes de segurança. Juntas, elas saíram pelo mundo abrindo gaiolas e resgatando sabiás-cativas.

As sabiás recém-libertas eram muito frágeis. A qualquer momento poderiam fraquejar e serem novamente aprisionadas. As sábias-sabiás lhes ensinaram tudo de novo. Curaram suas asas, ensinaram como ciscar, como pular, como voar e como cantar. Além disso, ensinaram também como farejar o predador, como abrir fechaduras e como dar alarmes.

Desse modo, elas criaram uma grande comunidade de sabiás livres. Cada uma aprendeu o seu próprio e específico canto de liberdade. E elas cantam bem alto, quando estão felizes. E ainda mais alto, sempre que se sentem ameaçadas. E quando esse canto ecoa no céu, todas as outras prontamente aparecem em seu socorro. Elas usam suas habilidades para curar umas às outras. Elas se ajudam e se amam. Elas se abençoam mutuamente.

Elas são sabiás-sábias. Vivem suas vidas simplesmente. Ao seu modo, cantam, ciscam, pulam e voam livres. Sem medo de nada.

E nunca mais uma sabiá se tornou cativa novamente. E seus homens aprenderam que não precisam de gaiolas. Entenderam que onde estiver seu ninho, aí estará sua sabiá. E ela estará ali por seu livre arbítrio. E ela cantará para ele. Espontaneamente

E todas as sabiás se tornaram sábias, livres e felizes para sempre!

Texto dedicado às Sabiás que tenho encontrado por aí... A Sílvia Profumo, as Sabiás da Moporã e as Sabiás da Comunidade Sou Mulher. 

Obrigada por me ensinarem a voar.

Para saber mais sobre a sabiá: http://www.wikiaves.com.br/sabia-laranjeira