As Sabiás
Peço licença poética para chamar o sabiá de
sabiá-menina. Daqui em diante, elas serão “as
sabiás”.
Eu nunca vi sabiás voando em bando. Elas
parecem seres solitários. Voam solo, ou em duplas, ou em pequenas famílias. Fazem
pequenos ninhos. Ciscam, pulam, voam e cantam. Vivem simplesmente.
Aprendi que o sabiá é o pássaro símbolo do Brasil. E que sabiá significa "aquele que reza muito". Talvez seja por seu canto, que mais parece uma melodia celestial...
Eu conheci algumas sabiás. E hoje quero falar
sobre elas.
Era uma vez uma sabiá. Ela ciscava, pulava, voava e
cantava livre. Um dia, um homem a viu e achou muito linda. Ele quis a sabiá só
para ele e a colocou numa gaiola. Em pouco tempo, a sabiá não cantava mais.
Desaprendeu a ciscar. Comia só o que ele lhe dava, pela janelinha da gaiola.
Ela engordou, e logo suas asas não aguentavam mais o peso do seu corpo. Para
garantir que ela não fugiria, o homem cortou a pontinha das suas asas. Aí, ela
não conseguiu mais voar, nem cantar, nem pular, nem ciscar.
Era uma vez uma sabiá que sabia ciscar. Ela se
juntou com outra que sabia cantar. E ambas aprenderam a voar com uma outra
companheira. Elas juntaram outras sabiás sábias. Cada uma sabia uma coisa
diferente. Elas formaram uma comunidade. E criaram códigos para se comunicar.
Criaram uma linguagem nova, que somente elas entendiam. Um canto suave que mais parecia uma reza...
O bando começou a crescer. Embora elas
continuassem livres para voar por onde quisessem, sempre achavam um jeito de se
reunir, bem longe dos predadores. Cada uma ensinava à outra o que melhor sabia.
Uma delas, era mestra em abrir gaiolas. Outra,
tinha um faro aguçado para predadores. Uma terceira, cantava muito alto e era
quem dava os alarmes de segurança. Juntas, elas saíram pelo mundo abrindo
gaiolas e resgatando sabiás-cativas.
As sabiás recém-libertas eram muito frágeis. A
qualquer momento poderiam fraquejar e serem novamente aprisionadas. As
sábias-sabiás lhes ensinaram tudo de novo. Curaram suas asas, ensinaram como
ciscar, como pular, como voar e como cantar. Além disso, ensinaram também como farejar o
predador, como abrir fechaduras e como dar alarmes.
Desse modo, elas criaram uma grande comunidade
de sabiás livres. Cada uma aprendeu o seu próprio e específico canto de
liberdade. E elas cantam bem alto, quando estão felizes. E ainda mais alto,
sempre que se sentem ameaçadas. E quando esse canto ecoa no céu, todas as
outras prontamente aparecem em seu socorro. Elas usam suas habilidades para
curar umas às outras. Elas se ajudam e se amam. Elas se abençoam mutuamente.
Elas são
sabiás-sábias. Vivem suas vidas simplesmente. Ao seu modo, cantam, ciscam, pulam e
voam livres. Sem medo de nada.
E nunca mais uma sabiá se tornou cativa
novamente. E seus homens aprenderam que não precisam de gaiolas. Entenderam que
onde estiver seu ninho, aí estará sua sabiá. E ela estará ali por seu livre
arbítrio. E ela cantará para ele. Espontaneamente
E todas as sabiás se tornaram sábias, livres e
felizes para sempre!
Texto dedicado às Sabiás que tenho encontrado por aí... A Sílvia Profumo, as Sabiás da Moporã e as Sabiás da
Comunidade Sou Mulher.
Obrigada por me ensinarem a voar.
Para saber mais sobre a sabiá: http://www.wikiaves.com.br/sabia-laranjeira
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