segunda-feira, 8 de julho de 2019

Arquétipos - A ciranda das deusas - Capítulo 1 - Hécate

"E eis que do alto da sua soberba, o homem criou deus à sua imagem e semelhança" (Friedrich Nietzsche)

Começo essa série com uma frase controversa, dita por um filósofo que tinha problemas de relacionamento com seu pai e que acabou morrendo louco. No entanto, havia uma certa razão no seu pensar desvairado.

Parafraseando esse meu amigo alemão, eu diria que o homem, no auge da sua inteligência, se valeu da mitologia para explicar a própria complexidade. Os deuses criados foram para trazer compreensão sobre muitas coisas... tais como as emoções, os poderes da natureza e as fases da vida. Muito se pode aprender com a Mitologia - A filha da Filosofia e irmã da Poesia.

Nessa série de textos possíveis, vamos sambar na cara da filosofia. Você vem comigo? Então calce seus sapatos vermelhos e deixe a Música te levar. Vem dançar comigo na ciranda das deusas.
...
O baile começa. Uma chuva de açoite aparece do nada. Um vento gelado agita os vestidos das damas. Lá fora se ouvem trovões. O céu escurece e subitamente é iluminado por relâmpagos. De repente, o silêncio. A chuva para. O tempo também.

Uma mariposa voa pelo salão e se transforma numa linda mulher madura. Longos cabelos mesclam fios negros e grisalhos. Um vestido de veludo preto e verde. Olhos negros fundos como o abismo e misteriosos como a noite. Uma valsa começa a tocar. É o inverno, de Vivaldi. Ela se apresenta. E todos a reverenciam em silêncio.

Meu nome é Hécate.
Sou a destruição e a morte. Trago temporais e catástrofes.
Sou a hecatombe. O caos. A dor.
Trago o desespero e o medo. A fúria e a revolta. A raiva e a loucura.
Ensinei Iansã a dançar. A Hela dei meus cabelos e Morrigan comigo aprendeu a voar pela noite.
Brenthis Hecate
Sou a noite fria que tens que enfrentar para ver a luz da manhã.
Sou o terror e o medo que tu vais ter que vencer se pretendes continuar a viver.
Sou a escuridão e a força que te empurraram para fora do ventre da tua mãe. Sou a luz que cega teus olhos. O ar que invade teus pulmões a força. O fôlego que te falta. O fôlego que te falta. Sou o que te falta.
Sou a força. A força que tu tiras nem sabes de onde, para virar o mundo ao avesso por aquele a quem amas. É a mesma força do ódio e das matanças. É a força da Guerra. A Força que te dou é o que tu fazes dela.
Sou eu. O desmantelo que precede os começos. O caos e o berço da criação.

Se quiseres dar um passo adiante, vais ter que passar por mim...
Dá-me tua mão e vem girar comigo nessa espiral sem fim.


Se por mim passares e eu não conseguir te despedaçar, te darei a manhã depois da chuva e porei teu barco em  mar sereno. Não faltará força em teu braço nem coragem em teu coração.

Teria Nietszche dançado com Hécate numa noite sombria? Teria ele abandonado o baile antes do tempo? Se entrares nessa dança, segue a música até o final. Não se abandona uma Hécate no meio da valsa.

Aguarde a próxima música...

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